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domingo, 31 de agosto de 2008

Torga





"
(...) nenhuma árvore explica os seus frutos, embora goste que lhos comam. (...)"

Miguel Torga

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

"Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo..."


"Amor, quantos caminhos até chegar a um beijo,
que solidão errante até tua companhia!Seguem os trens sozinhos rodando com a chuva.
Em taltal não amanhece ainda a primavera.
Mas tu e eu, amor meu, estamos juntos,
juntos desde a roupa às raízes,
juntos de outono, de água, de quadris,
até ser só tu, só eu juntos.
Pensar que custou tantas pedras que leva o rio,
a desembocadura da água de Boroa,
pensar que separados por trens e nações
tu e eu tínhamos que simplesmente amar-nos
com todos confundidos, com homens e mulheres,
com a terra que implanta e educa cravos."

Pablo Neruda

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Olimpicos e hipócrisia.

Terminados os jogos olímpicos ficam duas apreciações minhas:
Primeira: A cerimónia de abertura foi uma lição de humanismo sobre a cultura e a História dos povos não a História das elites, o que numa época de globalização formatadora de consciências é de assinalar.

Segunda: Para a postura elitista, a atitude arrogante e ignorante com que jornalistas, comentadores desportivos e responsáveis governamentais e os seus comentários sobre os atletas olímpicos portugueses, sobre isto vários factos:
1. O Presidente do comité olímpico português diz que não se recandidata após ter dito que os atletas não deviam arranjar desculpas para os resultados e tinham pouca educação e depois da medalha de Ouro do Nelson Évora já se candidata de novo!!!! Este senhor patético devia demitir-se e deixar alguém que saiba um pouco mais do que lidar com pessoas como se de animais se tratassem tomar conta do assunto.

2. Jornalistas que qualificaram como decepcionante a participação portuguesa, curioso para quem passa 4 anos a dar noticias exclusivamente sobre futebol agora terem opinião sobre outros desportos...

3. Os comentadores de futebol (Fernando Seara; Reinaldo Teles e Dias da Cunha) que durante 4 anos se limitam a dizer baboseiras, disparates e conversa de tasca sobre futebol que muitos bêbados deste País fazem com muito mais qualidade, acharem-se agora no direito de criticar o empenho de atletas que fazem muito mais pela divulgação da imagem do País do que estes "primatas desportivos" alguma vez farão. E terem a distinta "lata" de sugerir que os atletas que não obtêm resultados deviam devolver o dinheiro que receberam do Estado! Tirando a visão ridícula que a promoção do desporto não serve para nada inerente a esta teoria, sobra a hipocrisia daqueles apoiantes de clubes de futebol que nunca levantaram a voz para pedir de volta aos seus clubes os milhões que receberam para construir os seus estádios de futebol, milhões esses que dariam para pagar as missões olímpicas das próximas décadas...
Haja decência!

4. Por fim o Secretário de Estado do Desporto disse que gosta mais de ver os atletas a competir do que a falar, já eu prefiro ver os atletas competir e falar do que ouvir os sons emitidos como fala do Sr. Secretário de Estado!
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segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Música sobre George Bush












Vale a pena ver esta impressionante e acertada música (Dear Mr. President) de Pink sobre o arrogante e ignorante Presidente dos EUA.

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segunda-feira, 11 de agosto de 2008

"Sonho Impossivel (The Impossible dream)"

"Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu deixei
Por meu leito e perdão
Por saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão"

Composição: J.Darion / M.Leigh / Ruy Guerra

versão de Maria Bethania

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

A pisa da uva

"(...)De aí a nada, arregaçados, os homens iam esmagando os cachos, num movimento onde havia qualquer coisa de coito, de quente e sensual violação. Doirados, negros, roxos, amarelos, azuis, os bagos eram acenos de olhos lascivos numa cama de amor. e como falos gigantescos, as pernas dos pisadores rasgavam máscula e carinhosamente a virgindade túmida e feminina das uvas. A princípio, a pele branca das coxas, lisa e morna, deixava escorrer os salpicos de mosto sem se tingir. Mas com a continuação ia tomando a cor roxa, cada vez mais carregada, do moreto, do sousão, da tinta carvalha, da touriga e do bastardo.
A primeira violação tirava apenas a cada cacho a flor de uma integridade fechada. Era o corte. Depois, os êmbolos iam mais fundo, rasgavam mais, esmagavam com redobrada sensualidade, e o mosto ensanguentava-se e cobria-se de uma espuma leve de volúpia. À tona, a roçá-lo como talismãs, passeavam então os volumosos e verdadeiros sexos dos pisadores, repousados mas vivos dentro das ceroulas de tomentos. (...)"

Miguel Torga, Excerto de "Vindimas"

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Pesadelo

"(...)A lembrança dela vinha-lhe por surtos, como se tivesse sezões na alma. De repente, sem mais nem menos, invadia-o a cheia irremediável do desejo cruciante de a possuir, de a ver, de trocar nos sentidos exacerbados a imagem pela realidade. A princípio, era diferente. A tentação começava duma maneira insidiosa, sorna, assaltando a fortaleza com vagar e manha. Primeiro as muralhas exteriores; depois, e por cada vez, as portas principais do reduto. O castelo rendia-se, mas com honra. Agora, porém, era uma derrota instantânea. Mal dava conta, estava nas mãos do inimigo. Só quando, exausto, o corpo se relaxava, o fantasma se perdia na bruma, levado pelas mesmas asas que o traziam.
Vencido por essa presença doentia, ficava sem qualquer acção dentro do barco, entregue às forças do pesadelo. (...)"

Miguel Torga, Excerto do conto "Marinha" do livro "Pedras Lavradas"

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Velha amiga

"(...)Longe, na praia, do outro lado da grande duna, a faina começara. Um confuso ruído de gritos e de esforço trazia o testemunho de que ninguém renunciara, ali. Mas nenhum exemplo deste mundo lhe poderia valer. O desejo, a palavra ou a presença de alguém só conseguiriam ser naquela hora um motivo a mais de crucificação. A própria lagoa, a olhá-lo com insistência, o alvoroçou no primeiro momento. Mas era a lagoa, a sua velha amiga...(...)"

Miguel Torga, Excerto do conto "O Segredo" da obra "Pedras Lavradas"