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segunda-feira, 30 de junho de 2008

Hesse 2

"(...) no circulo dos pequenos, dos oprimidos e dos pobres, a existência não só é igualmente variada, como geralmente mais quente, mais verdadeira e exemplar que a dos favorecidos pela sorte e os grandes. (...)"

Hermann Hesse
Excerto de "Peter Camenzind"

Legalizar a imoralidade e a injustiça!

A proposta de código de trabalho que foi acordado entre o Governo, os Patrões e a central Sindical dos patr... perdão... a UGT consegue a proeza de, tal como disse o Sr. Francisco Van Zeller, representante dos patrões, "legalizar o que é ilegal". E legaliza mesmo o que é ilegal. Conseguem legalizar o trabalho precário. Não acabam com ele nem o querem fazer!
Mas pode o Sr. Van Zeller ter o despudor de festejar e brindar com champanhe este acordo e o facto de legalizar as ilegalidades. Porque não torna moral o que é imoral nem torna justo o que é injusto!
E podem festejar tudo o que quiserem, porque qualquer que seja o desenvolvimento daquilo que acordaram e querem tornar lei, o povo e os trabalhadores hão-de colocar o trabalho precário no mesmo lugar que colocaram, na História da humanidade, a escravatura!
Quer o Sr. Van Zeller, o Sr. Proença e o Sr. Sócrates queiram ou não!!!!!!!!!
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domingo, 29 de junho de 2008

"Há homens que lutam um dia, e são bons"

"Há homens que lutam um dia, e são bons;
Há outros que lutam um ano, e são melhores;
Há aqueles que lutam muitos anos, e são muito bons;
Porém há os que lutam toda a vida
Estes são os imprescindíveis"

Bertold Brecht

sexta-feira, 27 de junho de 2008

"O que será (à flor da Pele)"

"O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
Que todos os meus nervos estão a rogar
Que todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo"


Chico Buarque/ Milton Nascimento

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Lavagem cerebral

Não existem muitas palavras para descrever a lavagem cerebral que é imposta aos alunos que realizaram a prova de história do 12º Ano. Prova de história da responsabilidade da Srª Ministra da Educação. Esta prova assenta numa táctica fascista de que uma mentira repetida muitas vezes transforma-se em verdade, como dizia o outro, que a história, não a história da Srª Ministra mas aquela que é feita pelos povos, derrotou.
Numa verdadeira lavagem ao cérebro, fazem a apologia de um ex-dirigente do seu Partido. Transformam opiniões políticas pessoais e deturpadas em factos históricos. E conseguem a proeza de transformar o crescimento de produção industrial de outros países, que o nosso com a des(governação) da Srª Ministra e de os seus colegas de formação política nunca conseguiu alcançar, como algo negativo e prejudicial! É preciso falta de vergonha na cara...
O problema deles (Srª Ministra e demais correlegionários) virá quando o povo voltar a fazer a história pelas suas mãos, como sempre aconteceu ao longo da história da humanidade, nessa altura as lavagens cerebrais, que tentam realizar sobre o povo, não valerão de nada!

terça-feira, 24 de junho de 2008

Melancolia

"(...) O espelho alegre e límpido da minha alma era de vez em quando ensombrado por uma espécie de melancolia mas, nessa altura, não estava seriamente perturbado. Ela surgia aqui e além, por um dia ou uma noite, como uma tristeza sonhadora de solitário, mas desaparecia de novo sem rasto, regressando após semanas ou meses. Eu habituara-me a ela aos poucos como a uma amiga íntima, e não a sentia atormentadora, mas apenas como uma inquietude e um cansaço que possuíam a sua própria doçura. Quando me acometia à noite, em vez de dormir, eu deitava-me horas seguidas no vão da janela, olhava o lago negro, as silhuetas dos montes recortadas contra o céu pálido e, por cima, as belas estrelas. Depois, não raro, era tomado de um forte sentimento temeroso e doce, como se toda esta beleza nocturna me observasse com um justo olhar reprovador. Como se as estrelas, as montanhas e os lagos ansiassem por alguém que compreendesse e expressasse a sua beleza e a dor da sua existência, como se fosse eu esse alguém, como se a minha verdadeira missão fosse a de, pela escrita, dar expressão à natureza silenciosa. De que forma seria isto possível, era coisa sobre a qual nunca pensava, senão que sentia apenas a bela noite, grave, esperar por mim numa exigência silenciosa. Também nunca escrevi nada neste estado de espírito. No entanto, tinha um sentimento de responsabilidade frente a estas vozes silenciosas e, usualmente, após noites como esta, eu dava passeios a pé durante dias. Parecia-me que poderia assim manifestar um pouco de amor para com a terra que se me ofertava, numa súplica silenciosa, ideia sobre a qual, depois, eu próprio me ria. Estes passeios tornaram-se numa base da minha vida futura; a partir de então, passei grande parte dos anos como caminhante, em excursões de semanas e meses por diversos países. Habituei-me a fazer longas caminhadas com um naco de pão no bolso, a passar dias a caminho, solitário, e a pernoitar com frequência ao ar livre. (...)"

Hermann Hesse
Excerto de "Peter Camenzind"

Os «sentimentais»

"(...)Tenho conhecido homens que forjam pretextos para trair a amizade de outros. Sabem que falta lisura ao seu procedimento. Mas que poderão fazer, se os interesses de grupo valem mais que as boas vontades de indivíduos do grupo? Sufocam assim o fundo de honestidade que ainda neles possa reagir e afirmam, em palavras convictas a que não corresponde uma convicção, que foram os outros que os traíram. Donde duas consequências igualmente deselegantes: Por um lado, as razões que apresentam são fictícias, os argumentos rebuscados ao sabor das conveniências. Tudo serve para a defesa das suas afirmações: a deturpação do comportamento dos outros, a mentira, os ditos dos vizinhos, as cloacas de informação. Por outro lado - num singular aprumo de singular dignidade - são chocados profundamente, quando alguém se lembra de lhes colar o rótulo de infames. Um homem que traíra a confiança de outro (e que procurava toda a espécie de subterfúgios para evitar a palavra «traição») disse-me que, para ele, o maior desgosto seria a censura pública do seu acto. A esse, como aos que agora me ocupam, o que mais dói não é o facto de procederem mal - isso é questão arrumada para sossego da consciência - mas o facto de outros comentarem duramente o seu mau procedimento. Formam assim uma esquisita fauna de «sentimentais», a quem chocam mais as palavras cruas do que os factos que elas exprimem. (...)"

Excerto do texto Aviso Prévio de Alvaro Cunhal in "Alvaro Cunhal Obras Escolhidas I - 1935-1947"

domingo, 22 de junho de 2008

Imagens musicais

"(...) Há muitos «peritos» em música que consideram falso e diletante que, durante um recital, o ouvinte veja imagens: paisagens, pessoas, mares, trovoadas, alturas do dia e estações do ano. A mim, que sou um leigo, tão leigo que nem consigo reconhecer bem o tom de uma peça, parece-me que ver imagens é natural e bom; de resto, já o reencontrei em bons músicos. Naturalmente que, no concerto de hoje, os ouvintes não viram todos a grande vaga, o recife de solidão e tudo o que eu vi. No entanto, parece-me que esta música deve ter despertado em cada ouvinte a mesma sensação de crescimento orgânico e de vida, de surgimento, luta e sofrimento e, por fim, vitória.
Um bom caminhante devia ter à frente dos olhos a imagem de um longo e perigoso passeio pelos Alpes; um filósofo, o despertar, transformação e sofrimento de uma consciência até à resignação agradecida e madura; um santo, o caminho de uma alma afastando-se de Deus e regressando a um Deus maior e mais puro. Mas nenhum dos que ouviu com atenção pôde menosprezar a carga dramática desta imagem, o caminho da criança ao homem, da transformação ao ser, da felicidade individual à reconciliação com a vontade do universo.(...)

Hermann Hesse
Excerto de "Música"

sábado, 21 de junho de 2008

Maré Humana
















Olho para a imensa maré humana
A descer a avenida, que da liberdade se chama.
Nos rostos alguns sorrisos, de felicidade momentânea,
Que escondem as amarguras dos sofrimentos da vida

Em cada rosto um olhar iluminado de esperança
Em cada braço a força de uma vida dura
Em cada sorriso o desabafo da meta alcançada
Em cada pensamento o sonho de uma melhor vida futura.

São todos aqueles que trabalham
Que se deslocam em mais uma luta,
São todos aqueles que labutam e lutam
Todos os dias por uma vida justa!

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Só não vejo...

Vejo o sorriso luminoso
De um rapazito que brinca com um boneco
Como se estivesse receoso
Que alguém lhe levasse o boneco

Vejo um borboleta a voar
Em torno de uma margarida
Indiferente ao facto, milenar,
De num dia se esgotar a sua vida.

Vejo o olhar de cansada
De uma senhora idosa
Que depois de uma longa vida
Se arrasta, na rua, pesarosa.

Vejo os miúdos de mochila às costas
Dirigindo-se lentamente
E sem preocupações, para as escolas,
Querendo um mundo de brincadeiras eternamente.

Vejo os carros que avançam
Na cidade, apressados.
Vejo árvores que espalham
a sua sombra sobre os passeios.

Só não vejo o teu rosto,
Nem o teu encantador sorriso
E fico com uma espécie de desgosto
Por não partilhar o teu olhar bondoso!

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Música de sentimentos

"(...) Numa tarde tranquila, ao regressar dos campos, senti tudo claramente pela primeira vez, e quando pensava e tentava descodificar o enigma percebi, de repente, o significado de tudo aquilo, era o regresso dessas horas estranhas e distantes que eu em anos passados apenas pressentira. E com esta lembrança veio a claridade magnífica, a luz quase vítrea e transparente dos sentimentos que ali estavam sem máscara e que não se chamavam dor ou felicidade, mas apenas força e corrente de energia. Tinha-se feito música do movimento, do cintilar e dos meus intensos sentimentos do passado.
Agora eu via nos meus dias claros o sol e a floresta, os rochedos castanhos e as montanhas longínquas prateadas com uma dupla sensação de felicidade, de beleza e de realização, e senti nas horas escuras a dupla emoção do meu coração doente a expandir e exultar e já não distinguia o prazer da dor, eram ambos iguais, e ambos magoavam e eram ambos extraordinários. E enquanto eu sentia dor ou bem-estar, a minha força estava em paz, olhava e reconhecia a claridade e a escuridão como pertencendo uma à outra, como irmãs, o sofrimento e a paz como compassos e forças e parte da mesma grande música. (...)"

Hermann Hesse
Excerto de "Gertrud"

terça-feira, 17 de junho de 2008

"Perguntas de um Operário Letrado"

"Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitòria.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas"

Bertold Brecht

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Toque do sino












O toque do sino rompe
O calor abrasador do meio-dia
Indiferente ao mendigo
Que sentado no banco do jardim
Fuma a beata que apanhou do chão.

Fuma para enganar a fome que sente
E o seu olhar, sem alegria,
Procura um qualquer amigo,
Enquanto o som do sino ecoa pelo jardim
Indiferente ao mendigo e à sua reflexão.

No outro lado da rua, olhando em frente,
Passa o administrador do banco, com a expressão fria,
Indiferente ao tom amargo
Do eco que, no fim
Do seu badalar, o sino deixa na povoação.

Fica o silêncio quente
Que, cruelmente, amplia
O roer do estômago do mendigo
E a arrogância sem fim
Que o administrador ostenta na povoação.

domingo, 15 de junho de 2008

"Folha seca"

"Todas as flores aspiram a ser fruto
Todas as manhãs a ser noite,
Não há nada de eterno na Terra
A não ser a mudança, a fuga.

Mesmo o mais belo dos Verões anseia
Por conhecer o Outono, o definhar.
Aguenta-te, folha, mantém-te calma,
Quando o vento te quiser arrebatar.

Deixa estar, não tentes defender-te
Que aconteça o que tiver de ser.
Deixa o vento, que te arranca e parte,
De regresso a casa conduzir-te."

Hermann Hesse
"Elogio da Velhice"

sexta-feira, 13 de junho de 2008

A Democracia deles...

Os resultados do referendo, na Irlanda, ao Tratado de Lisboa foram hoje conhecidos. A vitória do Não e a derrota daqueles que queriam impor aos povos dos vários países da Europa um comando europeu de alguns Governos sobre os outros países - os poderosos dariam as ordens e os países mais pequenos obedeceriam.
Mas estes resultados provocaram um tumulto entre comentadores, jornalistas (que pelas suas intervenções nas televisões, durante o dia de hoje mostraram bem os interesses que defendem) e os Partidos que por cá nos têm (des)governado. O que espanta nos comentários não é a posição que têm sobre o tratado, porque sei a quem servem (não é a mim nem ás outras pessoas que trabalham), mas o despudor, a falta de vergonha e a arrogância com que vomitam sentenças: "...O tratado é muito complicado para as pessoas o entenderem...", "... Não sabiam bem no que estavam a votar...", "... foram enganados com falsidades...". Fica, para mim, claro que a democracia destes comentadores-jornalistas, jornalistas-comentadores e Partidos que nos têm (des)governado é valida e útil quando o povo faz o que eles querem, mas, se não fizer o que eles querem, então, o povo passa a ser estúpido e ignorante...
Talvez por isso, por cá não seja permitido votar se queremos ou não este tratado... Somos obrigados a querer... É a democracia deles...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Nuvens

"(...)Montanhas, lago, tempestade e Sol, eram esses os meus amigos, que me falavam e educavam, e durante longo tempo me foram mais caros e mais profundamente conhecidos que qualquer pessoa ou destino humano. Os meus eleitos, todavia, os que eu preferia ao lago espelhado e aos tristes ventos quentes e rochas ensolaradas, eram as nuvens.
Mostrai-me por esse vasto mundo o homem que melhor conheça ou mais ame as nuvens que eu! Ou mostrai-me a coisa deste mundo que seja mais bela que as nuvens! Elas são brinquedo e consolo do olhar, são bênção e dom de Deus, são a cólera e o poder da morte. Elas são delicadas, suaves e calmas como as almas dos recém-nascidos, são belas, ricas e dispensadoras como anjos bons, são negras, irrevogáveis e fatais como mensageiros da morte. Elas pairam prateadas em ténues camadas, vogam ridentes, brancas com bordos doirados, elas param para repousar com cores amarelas, vermelhas e azuladas. Elas avançam soturnas e lentas como assassinos, golpeam desenfreadas, de cabeça erguida, como cavaleiros loucos, pendem tristes e sonhadoras em pálidas alturas como melancólicos eremitas. Elas têm a forma de ilhas maravilhosas e de anjos a abençoar, assemelham-se a mãos ameaçadoras, velas adejando, grous em migração. Pairam entre o céu divino e a pobre terra, quais metáforas da nostalgia humana, pertencendo a ambos - sonhos da terra, em que esta roça a sua alma conspurcada no céu puro. Elas são a imagem eterna de todo o caminhar, da busca, da ânsia e da saudade do lar. E assim elas pendem entre a terra e o céu apreensivas, ansiosas e obstinadas, assim pendem apreensivas, ansiosas e obstinadas as almas dos homens, entre o tempo e a eternidade.(...)

Hermann Hesse

Excerto de "Peter Camenzind"

domingo, 8 de junho de 2008

"Elogio da Dialéctica"
















"A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos
O poder apregoa: as coisas continuarão a ser como são
Nenhuma voz além da dos que mandam
E em todos os mercados proclama a exploração;
isto é apenas o meu começo

Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos

Quem ainda está vivo não diga: nunca
O que é seguro não é seguro
As coisas não continuarão a ser como são
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados
Quem pois ousa dizer: nunca
De quem depende que a opressão prossiga? De nós
De quem depende que ela acabe? Também de nós
O que é esmagado que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha
E nunca será: ainda hoje
Porque os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã"

Bertold Brecht

sábado, 7 de junho de 2008

Bando azul

"(...) Respirei ar puro e fresco, bebi água gelada nos ribeiros, vi os rebanhos de cabras pastarem nas encostas abruptas, guardados pelos pastores silenciosos e de cabelos negros, ouvi por vezes as tempestades atravessarem o vale, vi neblinas e nuvens a uma proximidade incrível do meu rosto. Nas rachas das pedras vi o mundo colorido, pequenino e delicado das flores e os muitos e maravilhosos musgos, e nos dias claros subia durante uma hora à montanha para me afastar daquelas alturas e ver os picos longínquos, muito bem desenhados por sombras azuis, e prateados campos de neve. Num ponto do caminho, onde de uma pequenina e pobre fonte corria um fino fio de água, encontrava sempre nos dias claros centenas de borboletas pequenas e azuis que pousavam para beber e pouco se incomodavam com os meus passos, mas quando as perturbava deixavam-me a cambalear com um zunido de asas minúsculas e finas como seda. Desde que o descobri, ia sempre por este caminho nos dias de sol, e de todas as vezes que lá estava o bando azul e compacto era sempre uma festa. (...)"

Hermann Hesse
Excerto de "Gertrud"

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Euro 2008

A febre do Europeu de Futebol invade o País. Uma enorme campanha mediática transforma o futebol no principal acontecimento que se passa no mundo.
Não sou de falsas hipocrisias! Eu gosto de futebol e pretendo ver o maior número de jogos que conseguir!
Mas isso é uma coisa, outra é esta palhaçada de falso patriotismo que leva todos aqueles, que directa ou indirectamente contribuem para a perda de soberania do País e impedem que as pessoas tenham uma vida digna, a serem os maiores defensores de Portugal, defesa essa que começa e acaba com o futebol...
E então temos empresas, que aumentam brutalmente os seus lucros e dão aumentos salariais bem reduzidos aos seus trabalhadores, em enormes campanhas de apoio à selecção portuguesa, evidentemente, com a respectiva venda de produtos integrados nas campanhas para aumentar mais um pouquito os seus lucros!
E temos televisões e rádios a fazer do futebol a essencial e quase única noticia, como se nada mais acontecesse por cá.
Isto não é o Brasil, senão diria como diz a música de Chico Buarque:

"(...) Meu caro amigo

(...)Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito show e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol

Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta"

Chega de usar o futebol para esconderem o que estão a fazer ao País e às pessoas que nele vivem!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Vir para a rua gritar!!!




Hoje, mais de 200 mil pessoas (homens, mulheres e jovens) saíram à rua, e tal como diz a canção, saíram à rua para gritar... para dizer não a esta política deste Governo.
Vieram de todos os cantos do País aos milhares para dizer que estão fartos de uma política que castiga sempre e sempre os mesmos, sempre e sempre quem trabalha e beneficia sempre e sempre os mesmos, sempre e sempre aqueles que detêm o poder económico.
Respondeu o Ministro do trabalho, (se fosse Ministro dos Patrões, estaria a designação mais acertada com a prática deste senhor), que não lhe interessa se são 1, 10 ou alguns milhares a protestar porque os objectivos do Governo e, acrescento eu, dos patrões, que o Ministro deles não disse mas pensou, são para continuar.
Ficamos esclarecidos!

Mas fica também esclarecido que estes, não 1; não 10; nem sequer alguns milhares, mas sim, 200 mil mais os outros milhares todos que não se puderam deslocar a Lisboa sairão para a rua para gritar porque, contrariando a canção que diz Não me obriguem a vir para a rua gritar!, este Governo e este Ministro mais os seus Patrões obrigam-os a vir para a rua Gritar!!!!!

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Inquietação

"(...) Saído da atmosfera sóbria e oprimente da minha terra, dei grandes voos de prazer e liberdade. Se é certo que, no resto da minha vida, sempre sofri restrições, eu saboreei, contudo, o singular e apaixonado entusiasmo da juventude com abundância e plenitude. Qual jovem guerreiro repousando na orla florida da floresta, também eu vivia numa deliciosa inquietação entre o combate e a brincadeira; e como um vidente repleto de sabedoria, abeirava-me de obscuros abismos, escutando o rumorejar de grandiosas torrentes e tempestades, com a alma preparada para escutar a ressonância das coisas e a harmonia de toda a vida. Profunda e ditosamente, eu esvaziei o cálice pleno da juventude, sofri em silêncio doces penas por belas mulheres timidamente veneradas, e saboreei até ao âmago a mais nobre felicidade juvenil de uma alegre e viril amizade pura.(...)

Hermann Hesse
Excerto de "Peter Camenzind"

terça-feira, 3 de junho de 2008

Sem Palavras

Queria dizê-lo a cantar
Mas não tenho voz para o fazer.
Queria em poema mostrar
Mas não tenho jeito para escrever.

Queria conseguir explicar
Tudo o que me fazes sentir
Mas nunca consigo encontrar
As palavras certas para o exprimir.

Amo-te! Posso simplesmente dizer...
Contando que possas entender
Que não chega a corresponder
A metade dos sentimentos que estou a ter.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sorriso







A cada passo que dou tenho vontade de gritar,
Mas opto por continuar o meu caminho,
No qual, cruzo-me com uma criança que está a cantar...
Não lhe dou atenção e continuo a andar sozinho.

Chego perto do parque e retenho o meu olhar
No voo de uma andorinha, o que me consegue acalmar.
É então que te avisto e sinto a cabeça latejar,
Sempre que te vejo fico assim... Dizem que é por amar....

Não sei... Não me parece... Aliás, como podia ser?
Só te vi fugazmente meia dúzia de vezes,
Não conheço a tua voz e nem o teu nome posso escrever,
Mas os nossos olhares cruzam-se todas as vezes.

Aproximaste... oiço dizer: - Olá!... Será a tua voz ou sonhei?
Decido responder com um, olá... Nervosamente.
Olhaste para os meus olhos e pela primeira vez vi-te sorrir e não sonhei!
Fiquei leve, tão leve que queria guardar esse sorriso para sempre!

domingo, 1 de junho de 2008

5 Junho - Dia de dizer NÃO!













Há que pensar no estado do País...
Após três anos de governo PS do Sr. Engenheiro José Socrates (o Sr. Porreiro pá!), o que encontramos é:
- Mais desemprego
- A maior desigualdade social entre ricos e pobres da Europa
- 3 em cada 10 crianças do 1º ciclo passam fome!
- Salários dos mais baixos da União Europeia
- Inflação sempre superior aos aumentos dos salários
- Crescimento brutal da taxa de precariedade laboral
E para culminar (cereja em cima do bolo) decidiu o governo apresentar uma proposta de alteração às Leis Laborais com os objectivos de:
- Despedir sem motivos e sem defesa
- Diminuir salários
- Horários serem definidos pelos patrões, mediante os seus humores e disposições em cada momento
- Dificultar, diminuir e tentar impedir acção dos sindicatos
- Legalizar e ampliar a precariedade laboral, estendendo-a na prática a todos os trabalhadores.

Voltar ao sec XIX - Não, obrigado! Que volte o Sr. Porreiro pá sozinho, fique por lá e não volte!

Dia 5 de Junho a CGTP-In realiza uma manifestação em Lisboa... Eu estarei lá!

Hesse



"(...) Quero renascer como uma flor. (...)"

Hermann Hesse excerto de "Todas as mortes" do livro "Elogio da Velhice"