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quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Pesadelo

"(...)A lembrança dela vinha-lhe por surtos, como se tivesse sezões na alma. De repente, sem mais nem menos, invadia-o a cheia irremediável do desejo cruciante de a possuir, de a ver, de trocar nos sentidos exacerbados a imagem pela realidade. A princípio, era diferente. A tentação começava duma maneira insidiosa, sorna, assaltando a fortaleza com vagar e manha. Primeiro as muralhas exteriores; depois, e por cada vez, as portas principais do reduto. O castelo rendia-se, mas com honra. Agora, porém, era uma derrota instantânea. Mal dava conta, estava nas mãos do inimigo. Só quando, exausto, o corpo se relaxava, o fantasma se perdia na bruma, levado pelas mesmas asas que o traziam.
Vencido por essa presença doentia, ficava sem qualquer acção dentro do barco, entregue às forças do pesadelo. (...)"

Miguel Torga, Excerto do conto "Marinha" do livro "Pedras Lavradas"

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