"(...) E abria todo o mundo ferroviário
com a sua chave e a sua lira sarmentosa,
e caminhava sobre a espuma da pátria
cheio de pequenos pacotes estrelados,
ele, a árvore do cobre, regava
cada pequeno trevo que surgia,
o crime horrível, os incêndios,
e o ramo dos rios tutelares.
Na sua voz ecoavam gritos roucos
perdidos na noite dos raptos,
transportava sinos torrenciais
que à noite reunia no chapéu,
e recolhia no casaco esfarrapado
as transbordantes lágrimas do povo.
Atravessava as encruzilhadas arenosas,
a funda extensão do salitre,
as ásperas alturas da costa,
construindo o romance prego a prego,
compondo o verso telha a telha:
deixando nele a mancha das mãos
e as marcas da caligrafia. (...)"
Excerto de "Abraham Jesús Brito (Poeta Popular" in "Canto Geral" Pablo Neruda
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