"(...) Respirei ar puro e fresco, bebi água gelada nos ribeiros, vi os rebanhos de cabras pastarem nas encostas abruptas, guardados pelos pastores silenciosos e de cabelos negros, ouvi por vezes as tempestades atravessarem o vale, vi neblinas e nuvens a uma proximidade incrível do meu rosto. Nas rachas das pedras vi o mundo colorido, pequenino e delicado das flores e os muitos e maravilhosos musgos, e nos dias claros subia durante uma hora à montanha para me afastar daquelas alturas e ver os picos longínquos, muito bem desenhados por sombras azuis, e prateados campos de neve. Num ponto do caminho, onde de uma pequenina e pobre fonte corria um fino fio de água, encontrava sempre nos dias claros centenas de borboletas pequenas e azuis que pousavam para beber e pouco se incomodavam com os meus passos, mas quando as perturbava deixavam-me a cambalear com um zunido de asas minúsculas e finas como seda. Desde que o descobri, ia sempre por este caminho nos dias de sol, e de todas as vezes que lá estava o bando azul e compacto era sempre uma festa. (...)"
Hermann Hesse
Excerto de "Gertrud"
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