"(...)Tenho conhecido homens que forjam pretextos para trair a amizade de outros. Sabem que falta lisura ao seu procedimento. Mas que poderão fazer, se os interesses de grupo valem mais que as boas vontades de indivíduos do grupo? Sufocam assim o fundo de honestidade que ainda neles possa reagir e afirmam, em palavras convictas a que não corresponde uma convicção, que foram os outros que os traíram. Donde duas consequências igualmente deselegantes: Por um lado, as razões que apresentam são fictícias, os argumentos rebuscados ao sabor das conveniências. Tudo serve para a defesa das suas afirmações: a deturpação do comportamento dos outros, a mentira, os ditos dos vizinhos, as cloacas de informação. Por outro lado - num singular aprumo de singular dignidade - são chocados profundamente, quando alguém se lembra de lhes colar o rótulo de infames. Um homem que traíra a confiança de outro (e que procurava toda a espécie de subterfúgios para evitar a palavra «traição») disse-me que, para ele, o maior desgosto seria a censura pública do seu acto. A esse, como aos que agora me ocupam, o que mais dói não é o facto de procederem mal - isso é questão arrumada para sossego da consciência - mas o facto de outros comentarem duramente o seu mau procedimento. Formam assim uma esquisita fauna de «sentimentais», a quem chocam mais as palavras cruas do que os factos que elas exprimem. (...)"
Excerto do texto Aviso Prévio de Alvaro Cunhal in "Alvaro Cunhal Obras Escolhidas I - 1935-1947"
Excerto do texto Aviso Prévio de Alvaro Cunhal in "Alvaro Cunhal Obras Escolhidas I - 1935-1947"
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