"(...) Numa tarde tranquila, ao regressar dos campos, senti tudo claramente pela primeira vez, e quando pensava e tentava descodificar o enigma percebi, de repente, o significado de tudo aquilo, era o regresso dessas horas estranhas e distantes que eu em anos passados apenas pressentira. E com esta lembrança veio a claridade magnífica, a luz quase vítrea e transparente dos sentimentos que ali estavam sem máscara e que não se chamavam dor ou felicidade, mas apenas força e corrente de energia. Tinha-se feito música do movimento, do cintilar e dos meus intensos sentimentos do passado.
Agora eu via nos meus dias claros o sol e a floresta, os rochedos castanhos e as montanhas longínquas prateadas com uma dupla sensação de felicidade, de beleza e de realização, e senti nas horas escuras a dupla emoção do meu coração doente a expandir e exultar e já não distinguia o prazer da dor, eram ambos iguais, e ambos magoavam e eram ambos extraordinários. E enquanto eu sentia dor ou bem-estar, a minha força estava em paz, olhava e reconhecia a claridade e a escuridão como pertencendo uma à outra, como irmãs, o sofrimento e a paz como compassos e forças e parte da mesma grande música. (...)"
Agora eu via nos meus dias claros o sol e a floresta, os rochedos castanhos e as montanhas longínquas prateadas com uma dupla sensação de felicidade, de beleza e de realização, e senti nas horas escuras a dupla emoção do meu coração doente a expandir e exultar e já não distinguia o prazer da dor, eram ambos iguais, e ambos magoavam e eram ambos extraordinários. E enquanto eu sentia dor ou bem-estar, a minha força estava em paz, olhava e reconhecia a claridade e a escuridão como pertencendo uma à outra, como irmãs, o sofrimento e a paz como compassos e forças e parte da mesma grande música. (...)"
Hermann Hesse
Excerto de "Gertrud"
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