"Se ficasses para sempre
nos olhos que em ti medi
naquele balouçar de vestal e puta eternamente
serias o sonho prolongado
que não há.
Mas os anos amiga
os anos que passaram
fizeram de borracha a tua pele
e o desespero das rugas
enfeitou o teu rosto
num rasgo de ti mesma.
E desdobras-te em cascatas de gestos
em busca do que foste
sem saber
E há qualquer coisa de injusto em tudo isto
porque os meus olhos são da mesma idade
E o tempo
esse carrasco lento
fez de nós uma referência
uma memória esconsa do que fomos
e hoje são, talvez, as tuas filhas
quem desdobrou de ti o alçamento,
a graça de garça
e o altar de espanto.
Mas tu amiga,
aqueles teus seios de mármore
que mordi minha amante
esses roubaram-nos de inveja
o tempo e a lonjura
por isso recuso ver-te hoje
sem ser nessa memória.
Dizem que é assim,
isto de viver...
Mas há tudo de cru, injusto e triste
nessa amargura
porque a beleza extrema
nunca houvera de morrer
E o tanto que me estrago
a mim, não magoa
que eu nunca contei muito
para o belo que me deste.
Sempre vou ser isto
mais coisa menos coisa
cada vez mais velho e mais agreste.
Mas tu...
Tu tinhas direito à eternidade
o teu rosto, o teu corpo, as tuas mãos
moram para mim, ainda e sempre, na ideia em que te guardo.
E há qualquer coisa de injusto em tudo isto
porque os meus olhos são da mesma idade."
Pedro Barroso
1 comentário:
Por isso e mais outros tanto que eu te amo, beijos e tu sim é a minha Paz, meu Equilibrio...Mesmo que embora distante.
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