"(...) Nesse dia, como todos os dias, semana após semana, mês após mês, ano após ano, a vida decorreu no ritual de sempre.
O silêncio da noite cotado pelos apitos da alvorada e o súbito expandir do barulho da movimentação geral da cadeia. O ruidoso e cadenciado abrir (umas atrás das outras) das fechaduras e ferrolhos das celas. O bater de tairocas dos faxinas circulando com os baldes dos despejos. O baque metálico dos baldes ao serem atirados para o chão de cimento. O fedor espalhando-se nas alas logo misturado e coberto pelo da creolina. Novos apitos, formatura, conto. A distribuição do café e do casqueiro. O deslocar em cortejo para as oficinas. De novo ferrolhos e fechaduras, agora com novo bater das portas e o isolar dos reclusos nas celas. Depois o amortecer dos ruídos e o alastrar do vazio da imensidão das alas, cortado apenas pelo bater desencontrado das tairocas e tamancos dos faxinas e o barulho de marteladas, da serra e de máquinas vindo das oficinas(...)"
Excerto de "A Estrela de Seis Pontas" de Manuel Tiago, Pseudónimo literário de Álvaro Cunhal
Sem comentários:
Enviar um comentário