Pintura de Miguel Westerberg

quinta-feira, 30 de abril de 2009
25 de Abril 35 anos depois - Caminho da História da Libertação do Homem
Passaram 35 anos da Revolução dos Cravos, Revolução que trouxe liberdade e derrubou o Fascismo, que permitiu transformar o sonho em realidade! Nas semanas, meses que se seguiram muitos passos se deram, como Chico Buarque disse na segunda versão de “Tanto Mar”: “... foi bonita a festa, pá!...”... E foi bonita! Uma semana depois perto de 1 milhão de pessoas comemorava o 1º de Maio, dia do trabalhador, em Liberdade. Nas semanas seguintes, constituíram-se sindicatos, comissões de moradores, colectividades, Associações, Grupos desportivos e culturais! Cantaram-se as músicas antes censuradas. Declamaram-se os poemas antes cortados pelo lápis azul! Constituíram-se os Partidos! O PCP até então na clandestinidade foi o primeiro a tornar-se legal! Ocuparam-se casas desocupadas para dar habitação a quem não a tinha ou vivia em barracas! Os Agricultores ocuparam terras até então improdutivas e votadas ao abandono por latifundiários gananciosos. Terras que foram germinadas! A dependência alimentar do País face ao estrangeiro diminuiu progressivamente! Nacionalizou-se a banca e os sectores chave da economia! Estabeleceu-se o salário mínimo nacional pela primeira vez! Atribuíram-se reformas aos reformados, pensionistas e idosos que até então não as tinham. Libertou-se os povos das colónias parando-se com a Guerra Colonial sangrenta que matou e estropiou milhares de Portugueses, Angolanos, Moçambicanos e Guineenses! Acabou-se com a censura!
Foi uma festa bonita!
Mas como Chico Buarque disse na segunda versão de “Tanto Mar”: “...já murcharam tua festa, pá!...” E, murcharam mesmo, passado um ano e alguns meses concretizou-se um contra golpe na revolução a 25 de Novembro!
E desde aí a ofensiva contra as conquistas de 25 de Abril não mais parou! Destruíu-se a agricultura, parte das terras servem hoje para capitalistas passearem aos fins de semana ou jogar golfe, a dependência alimentar de Portugal atingiu valores nunca antes atingidos! Privatizou-se os bancos para que os seus donos se envolvessem em negócios especulativos e pouco claros que já levou a uma crise sem precedentes no sistema financeiro, paga pelos impostos de quem trabalha!
Mas, 35 anos depois, pode-se dizer que parte das conquistas se mantêm! Salário mínimo, Reformas, liberdade de organização, Libertação dos povos das colónias! E como Buarque diz “... mas certamente esqueceram alguma semente nalgum canto de jardim...”. A semente da revolução de Abril irá germinar no caminho da História. História da libertação do homem de todas as formas de exploração e opressão. O Caminho da história que iremos percorrer como outros o percorreram no passado! Aqueles que fizeram Abril permitiram-me nascer mais à frente no caminho! O Caminho prosseguirá, muitos morrerão sem chegar ao fim dele, mas permitirão, certamente, às gerações vindouras nascer mais à frente no Caminho da História da Libertação do homem!
Caminhar pelos ideais de Abril e pela libertação do homem de todas as formas de exploração e opressão é o objectivo de “Há Sempre Alguém...”
quarta-feira, 29 de abril de 2009
"Filhos da Madrugada"
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor nos ramos
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praia do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca."
José Afonso
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Tanto Mar - 2ª Versão 1978
Fiquei contente
E inda guardo, renitente
Um velho cravo para mim
Já murcharam tua festa, pá
Mas certamente
Esqueceram uma semente
Nalgum canto do jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Canta a primavera, pá
Cá estou carente
Manda novamente
Algum cheirinho de alecrim"
Chico Buarque
domingo, 26 de abril de 2009
"As portas que Abril abriu"
| "Era uma vez um país onde entre o mar e a guerra vivia o mais infeliz dos povos à beira-terra. Onde entre vinhas sobredos Era uma vez um país
Ali nas vinhas sobredos Um povo que era levado Ora passou-se porém Era a semente da esperança Era já uma promessa Esses que tinham lutado Não tinham armas é certo uma pistola guardada Quem o fez era soldado Posta a semente do cravo Foi então que o povo armado Pois também ele humilhado Era preso e exilado Capitão que não comanda Porque a força bem empregue Foi então que Abril abriu Disse a primeira palavra E então por vinhas sobredos Em idas vindas esperas Dizia soldado amigo Foi esta força sem tiros Foi esta força viril fez Portugal renascer. E em Lisboa capital Mesmo que tenha passado E se esse poder um dia Essas portas que em Caxias Agora que já floriu Contra tudo o que era velho Quando o povo desfilou Mas eram olhos as balas E o grito que foi ouvido Contra tudo o que era velho E então operários mineiros A seu lado também estavam Porém cantar é ternura E uns e outros irmanados Entanto não descansavam Foi então se bem vos lembro E foi um mosto tão forte Ali ficámos de pé Ali dissemos não passa! Foi a força do Outono Foi a força dos mineiros Desde esse dia em que todos Porém em quintas vivendas Por isso o onze de Março E tivemos de pagar Fugiram como cobardes E aqui ficaram de pé Os tais homens que sentiram Os tais homens que souberam Os que viram claramente Os tais homens feitos de aço Essa história tão bonita Dai ao povo o que é do povo Havia sim a lonjura Foi este lado da história das naves que transportaram Por saberem como é E em sua pátria fizeram Mesmo que seja com frio pensar que somos um mar No Minho com pés de linho É isto a reforma agrária Quem a fez era soldado De tudo o que Abril abriu Na frente de todos nós Ouvi banqueiros fascistas Ary dos Santos |
Tanto Mar - 1ª Versão - 1975
Fico contente
E enquanto estou ausente
Guarda um cravo para mim
Eu queria estar na festa, pá
Com a tua gente
E colher pessoalmente
Uma flor do teu jardim
Sei que há léguas a nos separar
Tanto mar, tanto mar
Sei também quanto é preciso, pá
Navegar, navegar
Lá faz primavera, pá
Cá estou doente
Manda urgentemente
Algum cheirinho de alecrim"
Chico Buarque
sábado, 25 de abril de 2009
A PIDE dispara contra o povo

A coluna do RC 3, que tinha como missão libertar os militares presos na Trafaria, chega à Ponte sobre o Tejo. Do Posto de Comando recebe, porém outro objectivo: acorrer em defesa das forças de Salgueiro Maia, a fim de encurralar a GNR e a Polícia de Choque entre dois fogos.
Centenas de pessoas descem a Rua António Maria Cardoso, entoando o hino nacional, e aproximando-se da sede da PIDE/DGS, de cujas janelas são disparados tiros. Cinco feridos, alguns com gravidade.
O Povo Sai à rua!


As forças concentradas no Terreiro do Paço distribuem-se: uma parte em direcção ao Quartel General da Legião Portuguesa, na Penha de França, comandada por Jaime Neves e formada por forças aderentes do RC 7, RI 2 e RI 1. Outra parte, comandada por Salgueiro Maia, e formada pelas forças da EPC, em direcção ao Carmo. A marcha da coluna militar até ao Carmo, é acompanhada por impressionante número de pessoas que gritam: «Vitória! Vitória!», «Fim à guerra colonial!», «Abaixo o fascismo!» e « Liberdade! Liberdade!».

Salgueiro Maia dispõe as suas forças em posição de cerco ao Quartel do Carmo. Constituem-nas militares do RC 7, da EPC e da Região Militar de Tomar. As portas e janelas estão fechadas. Muito povo dificilmente contido nas ruas vizinhas, apoia os militares revoltosos. Vêem-se cravos vermelhos nos canos de muitas espingardas oferecidos aos soldados por populares.
O ultimo suspiro dos fascistas

Detenção do General Louro de Sousa, quartel-mestre-general, à entrada do respectivo serviço.
Chegada ao Agrupamento Norte a Peniche. A Pide-DGS mostra-se disposta a resistir.
Mais posições tomadas pelo MFA

No Porto uma coluna de artilharia pesada de Gaia toma posição junto da ponte da Arrábida!
Tomada do Terreiro do Paço

A Revolução está na rua!!
Entre as 0.30 e as 3 horas
Inicia a marcha uma força da Escola Prática de Artilharia com destino ao Cristo-Rei em Almada.
Da Escola Prática de Infantaria sai uma força comandada por Rui Rodrigues para ocupar o Aeroporto de Lisboa.
Da Escola Prática de Cavalaria sai uma força comandada por Salgueiro Maia com o objectivo de ocupar o Terreiro do Paço.
De Stª Margarida o pessoal das Companhias de Caçadores 4241 e 4246 prepara-se para ocupar as antenas da Emissora Nacional situadas em Porto Alto.
De Tomar sai Hugo dos Santos para constituir um grupo de comandos destinado a neutralizar o 2º Comandante de Cavalaria 7, Ferrand de Almeida
De Viseu sai uma Companhia que se juntará a outras forças na Figueira da Foz.
Do Campo de Tiro da Serra da Carregueira saí um grupo de homens comandado por Oliveira Pimentel e Frederico Morais, com a missão de tomar os estúdios da Emissora Nacional na rua do Quelhas.
Movimentações ainda em unidades da Região Militar de Lisboa: Batalhão de Caçadores 5, Batalhão de Cavalaria 7, Escola Prática de Administração Militar (com a constituição de um grupo de homens comandados por Teófilo Bento, que tem por objectivo assaltar as instalações da Televisão, ao Lumiar), Escola Prática de Engenharia (que deve fornecer munições e juntar-se ás forças vindas de Santa Margarida.
Pelas 3 horas
Sacramento Marques, Comandante do CIOE de Lamego dá ordem de saída a uma companhia de comandos, sob as ordens de Delgado da Fonseca. Missão: fazer o itinerário Lamego-Porto e ocupar a delegação da PIDE/DGS na capital do Norte.
Carlos Azeredo, Eurico Corvacho, Albuquerque e Boaventura Ferreira penetram no Quartel General da Região Militar do Porto e transformam-no em Posto de Comando do Movimento no Norte do País.
Ocupação quase simultânea de pontos vitais da capital. Começam a ser enviadas para o Posto de Comando as confirmações em código:
Rádio Televisão Portuguesa, Teófilo Bento informa: "Daqui é maior de Lima Cinco. Acabamos de tomar Mónaco sem incidentes".
Rádio Club Português, Santos Coelho informa: "Aqui Grupo Dez. Informo México conquistado sem incidentes".
Emissora Nacional, Frederico Morais informa: "Daqui maior de Lima Dezoito. Informo ocupámos Tóquio sem qualquer incidente".
Quartel-General, Cardoso Fontão informa; "Canadá foi ocupado sem incidentes".
Pelas 3.30 Horas
Santos Júnior, Comandante da PSP do Porto, telefona para o Comando da GNR informando que o QG da Região Militar foi tomado por um grupo de oficiais revoltosos. As ordens não se fazem esperar: prevenção rigorosa. Contactos entre GNR e PSP e Regimento de Cavalaria 6 para libertar o Quartel General. Arriscado Nunes e Martins Rodrigues, Comandante e 2º Comandante do RC6, recusam colaborar e aderem ao Movimento. Contactados Rui Mendonça e Carneiro de Magalhães, respectivamente do Regimento de Infantaria 8 e do Regimento de Infantaria 13, recusam cumprir as ordens dos comandantes.
Pelas 4 horas
Ocupação do Aeroporto de Lisboa. Costa Martins ordena a emissão de instruções que interditam o espaço aéreo português e comunica para o Posto de Comando: "Aqui maior de Lima Dois. Informo Nova Yorque está ocupado e está sob nosso controlo".
Primeiras movimentações iniciam-se com 2ª Senha
Há trinta e cinco anos a noite fascista começava a despontar na madrugada dos cravos!
"Grândola Vila Morena" - 2ª Senha
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade"
José Afonso
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Começam os preparativos de alguns capitães
Logo após a audição do primeiro sinal começam os preparativos em várias unidades: na Escola Prática de Artilharia são presos o Comandante e o 2º Comandante e são reunidos os oficiais milicianos, os sargentos, os furriéis e os cabos milicianos, a quem os oficiais do Movimento expõem a situação. Aderem quase unanimemente os oficiais, furriéis e cabos milicianos, e recusam a sua adesão os sargentos do Quadro Permanente, que são presos na totalidade.
Na Escola Prática de Infantaria todo o pessoal recolhe à unidade, interrompendo os exercícios finais de campo, por forma a iniciarem os preparativos.
Na Escola Prática de Administração Militar os oficiais do Quadro Permanente dirigem-se para a unidade e iniciam os seus preparativos.
No Batalhão de Caçadores 5 Cardoso Fontão reúne as poucas dezenas de oficiais presentes que manifestam adesão unânime. Dele sairão duas companhias: a primeira tem como objectivo o Quartel General e a segunda, o cerco e a defesa da zona do Rádio Club Português.
O pessoal do " 10º Grupo de Comandos", cuja missão é o assalto ao Rádio Club Português, ouve o sinal e prepara-se para cumprir a missão que permitirá levar a voz do Movimento a todo o país.
Costa Martins dirige-se para o Aérodromo Base nº1, na Portela de Sacavém. Está incumbido de controlar o Aeroporto e tráfego aéreo.
"E Depois do Adeus" - 1ª Senha
"Quis saber quem sou
O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor que aprendi
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós."
Letra de José Niza, Música de José Calvário, Interpretação de Paulo de Carvalho
quarta-feira, 22 de abril de 2009
"O que faz falta"
O que faz falta
Quando o pão que comes sabe a merda
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
Quando nunca a noite foi dormida
O que faz falta
Quando a raiva nunca foi vencida
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é acordar a malta
O que faz falta
Quando nunca a infância teve infância
O que faz falta
Quando sabes que vai haver dança
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
Quando um cão te morde a canela
O que faz falta
Quando a esquina há sempre uma cabeça
O que faz falta
O que faz falta é animar a malta
O que faz falta
O que faz falta é empurrar a malta
O que faz falta
Quando um homem dorme na valeta
O que faz falta
Quando dizem que isto é tudo treta
O que faz falta
O que faz falta é agitar a malta
O que faz falta
O que faz falta é libertar a malta
O que faz falta
Se o patrão não vai com duas loas
O que faz falta
Se o fascista conspira na sombra
O que faz falta
O que faz falta é avisar a malta
O que faz falta
O que faz falta é dar poder a malta
O que faz falta"
José Afonso
terça-feira, 21 de abril de 2009
Dias Coelho - O Assassinio do pintor e revolucionário

"A Morte saiu à rua"
Naquele lugar sem nome para qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue de um peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
E o som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o Pintor morreu
Teu sangue, Pintor, reclama outra morte igual
Só olho por olho e dente por dente vale
À lei assassina, à morte que te matou
Teu corpo pertence à terra que te abraçou
Aqui te afirmamos dente por dente assim
Que um dia rirá melhor quem rirá por fim
Na curva da estrada há covas feitas no chão
E em todas florirão rosas de uma nação"
José Afonso
segunda-feira, 20 de abril de 2009
As águas do Tejo - 35 anos depois
"Tejo que levas as águas"
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar.
Lava-a de crimes e espantos
de roubos fomes terror
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amor.
Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro.
Lava palácios vivendas
casebres bairros de lata
leva negócios e rendas
que a uns farta a outros mata.
Leva nas águas as grades
de aço e silêncio forjadas
deixa soltar-se a verdade
das bocas amordaçadas.
Lava avenidas de vícios
vielas e amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais.
Afoga empenhos favores
vãs glórias ocas palmas
leva o poder de uns senhores
que compram corpos e almas.
Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo
rostos corpos destroçados
lava-os com sal e iodo.
Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar».
Poema de Manuel de Oliveira
Música de Adriano Correia de Oliveira
domingo, 19 de abril de 2009
PIDE/DGS Os vampiros à solta

Durante quase 50 anos o saldo da acção dos vampiros saldou-se por centenas de mortos, muitos milhares de torturados!
Trinta e cinco anos depois da Revolução que derrubou o Fascismo convém lembrar porque há quem queira fazer esquecer!
"Vampiros"
"No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vem em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas
São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada
Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada"
José Afonso
sábado, 18 de abril de 2009
"Trova do Vento que Passa"
Notícias do meu país
O vento cala a desgraça
O vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
Dentro da própria desgraça
Há sempre alguém que semeia
Canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
Em tempo de servidão
Há sempre alguém que resiste
Há sempre alguém que diz não."
Excerto do poema de Manuel Alegre Trova do Vento que passa cantado por Adriano Correia de Oliveira
sexta-feira, 17 de abril de 2009
A Guerra colonial deixou meninas dos olhos tristes

Guerra colonial que apenas serviu para limitar as liberdades aos povos das ex-colonias e ao povo português!
"Menina dos Olhos Tristes"
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar
Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar"
Adriano Correia de Oliveira
quarta-feira, 15 de abril de 2009
35 Anos depois...

Para que não se esqueça, que existiu Abril, um Abril que tem levado machadadas... e que precisa de ser retomado e concretizado!
Sem grandes pretensões de fazer uma análise exaustiva ao que era o Portugal do antes de 25 de Abril de 1974 e o que a revolução trouxe, "há sempre alguém..." recordará aqui nos próximos 15 dias, imagens, sons e acontecimentos do antes e da Revolução!
terça-feira, 14 de abril de 2009
"Para o meu coração..."

para a tua liberdade as minhas asas.
Da minha boca chegará até ao céu
o que dormia sobre a sua alma.
És em ti a ilusão de cada dia.
Como o orvalho tu chegas às corolas.
Minas o horizonte com a tua ausência.
Eternamente em fuga como a onda.
Eu disse que no vento ias cantando
como os pinheiros e como os mastros.
Como eles tu és alta e taciturna.
E ficas logo triste, como uma viagem.
Acolhedora como um velho caminho.
Povoam-te ecos e vozes nostálgicas.
Eu acordei e às vezes emigram e fogem
pássaros que dormiam na tua alma."
Pablo Neruda, poema do livro "Vinte Poemas
de amor e uma canção desesperada"
segunda-feira, 13 de abril de 2009
O cão do nosso orgulho ou a vergonha da nossa mediocridade

E facto, de Obama escolher o canídeo, que presumo não ser portador de pulgas, deixou os jornalistas portugueses em pulgas, não as parasitas, mas as psicológicas, aquelas que deixam as pessoas inquietas!
O que animou e excitou os jornalistas é o facto de o canídeo ser de raça portuguesa! Magnífico motivo de orgulho nacional ter um cão na casa branca! Poderá o cão usar dos seus contactos para resolver os problemas do nosso país? Só um jornalismo medíocre acredita nisso! Mas é o que temos!
O Hipócrita

domingo, 12 de abril de 2009
Na sua voz ecoavam gritos roucos

com a sua chave e a sua lira sarmentosa,
e caminhava sobre a espuma da pátria
cheio de pequenos pacotes estrelados,
ele, a árvore do cobre, regava
cada pequeno trevo que surgia,
o crime horrível, os incêndios,
e o ramo dos rios tutelares.
Na sua voz ecoavam gritos roucos
perdidos na noite dos raptos,
transportava sinos torrenciais
que à noite reunia no chapéu,
e recolhia no casaco esfarrapado
as transbordantes lágrimas do povo.
Atravessava as encruzilhadas arenosas,
a funda extensão do salitre,
as ásperas alturas da costa,
construindo o romance prego a prego,
compondo o verso telha a telha:
deixando nele a mancha das mãos
e as marcas da caligrafia. (...)"
Excerto de "Abraham Jesús Brito (Poeta Popular" in "Canto Geral" Pablo Neruda
sábado, 11 de abril de 2009
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Generosidade da imaginação

Excerto de "A Viagem do Elefante" de José Saramago
quinta-feira, 9 de abril de 2009
"Cantar da Emigração"
E todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
Que possam cortar teu pão
Tens em troca órfãos e órfãs
tens campos de solidão
tens mães que não têm filhos
filhos que não têm pai
Coração que tens e sofre
longas ausências mortais
viúvas de vivos mortos
que ninguém consolará
Este parte, aquele parte
E todos, todos se vão
Galiza ficas sem homens
Que possam cortar teu pão"
Rosália de Castro / José Niza
Adriano Correia de Oliveira
quarta-feira, 8 de abril de 2009
Cantei para aqueles que não tinham voz!

contra as afiadas línguas da cobiça,
contra o ouro empapado na tortura,
contra a mão que empunhava o chicote,
contra os que dirigem as trevas.
- Cada rosa abrigava um morto nas suas raízes.
A luz, a noite, o céu, cobriam-se de pranto,
os olhos desviavam-se ao ver as mãos feridas
e a minha voz era a única que enchia o silêncio.
- Eu quis que da condição humana nos libertássemos,
acreditava que o caminho passava pelo homem
e que daí tinha de surgir o nosso destino.
Cantei para aqueles que não tinham voz.
A minha voz bateu às portas até então fechadas
para que, combatendo, a Liberdade entrasse. (...)"
Excerto do Poema "Castro Alves do Brasil" In "Canto Geral" de Pablo Neruda
Viagens!
“(...) Quando o cérebro divaga, quando nos arrebata nas asas do devaneio, nem damos pelas distâncias percorridas, sobretudo quando os pés que nos levam não são nossos(...)”
terça-feira, 7 de abril de 2009
Rosto humano de conteúdo desumano!
Poderia ainda fazer a consideração se não seríamos, no caso de alguns destes humanos, mais bem servidos pelos outros animais... Mas é melhor não adiantar aqui essa filosofia!
Afastada a ideia, fui ler o que dizia o programa do referido partido, e então descobri o que queria dizer rosto humano! Quer dizer "... é possível integrar a construção europeia, tendo em vista a convergência entre desenvolvimento económico e coesão social....", como fica bem dito desta forma.
Mas, perguntei-me, como isso se faz? E no conteúdo do programa, lá vem clara, descarada, sem nenhuma vergonha a resposta:
"... para enfrentar estes desafios é essencial a entrada em vigor do tratado de Lisboa, com a rápida conclusão do processo de ratificação..." - chama-se a isto o rosto humano!!! Os povos de França, Holanda e Irlanda votaram em referendo não, e estes" humanistas" consideram-nos desumanos e vai daí, vamos apressar a ratificação daquilo que os (des)humanos não querem!
Mas há mais, e vai daí a primeira resposta para combater a crise proposta pelo MET é: "...que a Política Agrícola Comum (PAC) assim como a Política Comum de Pescas, deverão prosseguir o seu caminho rumo a um cariz mais orientado para o mercado,..." as tais políticas que destruíram a agricultura portuguesa e as pescas? E que agora já, muitos dos que as defendiam, dizem que temos de regressar à produção agrícola devido à dependência alimentar? Fantástica humanidade esta do MEP!!!!
Bem, mas também o que se esperava de um Partido que tem como rosto humano Laurinda Alves, a mesma que defende que a Lei devia considerar criminosas as mulheres que praticam a IVG? Lá está, é o rosto humano de conteúdo desumano!
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Rio sem nome

longe das minha terras áridas
como uma águia que nos ares
sobrevoa sem se aproximar das presas.
Que a chuva te aumente a adrenalina,
como a fome a faz à ave de rapina,
e que te faça transbordar no meio da neblina
galgando as terras em surdina!
Rio que te chamas Tejo, Minho,
Guadiana, Douro, Danúbio,
Amazonas, Parnaíba, Nilo,
Paraguai ou Sado
Rio sem nome... Rio da minha alegria
trás as tuas águas, invade as minhas margens,
alaga os meus caminhos, molha o meu dia,
transforma a minha vida, altera, aos meus olhos, as paisagens!
No teu caminho que nenhuma barragem
te pare, que nenhuma avalanche inesperada
te desvie, que te deixem
caminhar e invadir a minha vida!
Quero as tuas águas nas minhas margens!
Quero o teu cheiro nas minhas terras!
Quero navegar em ti nas minhas viagens!
Quero me lavar nas tuas águas!
"O povo vitorioso"
O meu povo vencerá. Todos os povos
vencerão, um por um.
Estas dores
serão espremidas como lenços até
enxugar tantas lágrimas vertidas
nas galerias do deserto, nos túmulos,
nos degraus do martírio humano.
Mas está próximo o tempo da vitória.
Que o ódio sirva para que não tremam
as mãos do castigo,
que a hora
chegue ao seu horário no instante puro
e o povo encha as ruas vazias
com suas frescas e firmes dimensões.
Eis aqui a minha ternura para então.
Vós conhecei-la. Não tenho outra bandeira."
Pablo Neruda in "Canto Geral"
domingo, 5 de abril de 2009
Gente Simples

"(...) Não há dúvida de que as melhores lições nos vêm sempre da gente simples.(...)
José Saramago - "A Viagem do Elefante"
Pintura de Di Cavalcanti
sábado, 4 de abril de 2009
sexta-feira, 3 de abril de 2009
"Queixa das almas Jovens censuradas"
e uma alma para ir à escola
mais um letreiro que promete
raízes, hastes e corola
Dão-nos um mapa imaginário
que tem a forma de uma cidade,
mais um relógio e um calendário
onde não vem a nossa idade
Dão-nos a honra de manequim
para dar corda à nossa ausência.
Dão-nos um prémio de ser assim
sem pecado e sem inocência
Dão-nos um barco e um chapéu
para tirarmos o retrato
Dão-nos bilhetes para o céu
levado à cena num teatro
Penteiam-nos os crânios ermos
com as cabeleiras das avós
para jamais nos parecermos
connosco quando estamos sós
Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo
Temos fantasmas tão educados
que adormecemos no seu ombro
somos vazios despovoados
de personagens de assombro
Dão-nos a capa do evangelho
e um pacote de tabaco
dão-nos um pente e um espelho
pra pentearmos um macaco
Dão-nos um cravo preso à cabeça
e uma cabeça presa à cintura
para que o corpo não pareça
a forma da alma que o procura
Dão-nos um esquife feito de ferro
com embutidos de diamante
para organizar já o enterro
do nosso corpo mais adiante
Dão-nos um nome e um jornal
um avião e um violino
mas não nos dão o animal
que espeta os cornos no destino
Dão-nos marujos de papelão
com carimbo no passaporte
por isso a nossa dimensão
não é a vida, nem é a morte"
Poema de Natália Correia
Música de José Mário Branco
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Incerteza e certeza...

a dor aguda que lhe cresce nos músculos,
o suor que lhe escorre, em bica, pelo pescoço,
a respiração ofegante que lhe faz soltar inaudíveis gritos.
São os sinais da sua tragédia.
Tragédia de uma vida e exemplo de muitas vidas
de esforço, suor e lágrimas de angústia.
De trabalho e incerteza dos dias.
Incerteza de pão,
incerteza de fome,
incerteza de estagnação,
incerteza de sede.
Incerteza e certeza,
certeza de injustiça,
certeza de ganância,
certeza de avareza.
Dos que riem enquanto estes choram.
Dos que comem enquanto estes, apenas, respiram.
Dos que viajam enquanto estes param.
Dos que vivem enquanto estes morrem!
Pintura de Alexandre Freire
A SIC, a pedofilia e o dinheiro...

Mas, a SIC, também, não compara esses custos com os custos que as crianças vitimas de abuso sexual continuado têm. Até porque não há dinheiro que pague esses custos, não são contabilizáveis (os dramas, a vergonha, os traumas nunca ultrapassados, as vidas destruídas e destroçadas, a destruição dos afectos que as vítimas de pedófilos nojentos quase nunca conseguem ultrapassar).
Curiosa, ou talvez não, reportagem num momento de crise económica... terá o objectivo de levar as pessoas a questionar se vale a pena gastar dinheiro na justiça???
E por fim fica-me uma pergunta: a SIC faria a mesma reportagem se os arguidos fossem pobres? Ou só a faz porque os arguidos são figuras públicas das elites?
quarta-feira, 1 de abril de 2009
José Sócrates é culpado!!!!!!

Uma forma de desviar as atenções é a grande cimeira do G20 (vinte países mais ricos à custa da exploração das matérias primas e da mão de obra barata dos outros cento e muitos países mais pobres, é o que esta sigla quer dizer traduzida para linguagem cuidada, porque, se for traduzida para linguagem do povo simples, então, a tradução da dita sigla quer dizer grupo de governantes filhos da puta, gatunos e ladrões dos 20 países que mais roubam os povos dos países mais pobres). Esta cimeira que televisões bem mandadas, jornais cães de fila, e rádios papagaio vão dizendo que vai estudar medidas para livrar o mundo da crise... como se quem rouba fosse procurar medidas para impedir que seja possível roubar!
No final da cimeira teremos jornalistas com sorrisos colgate a propagar, como bons propagandistas que são, as medidas que saírem da cimeira dizendo que estão encontradas as soluções para por fim à crise, ou seja, traduzindo em linguagem do povo, as soluções para apesar da crise e aproveitando-se dela os filhos da puta que têm vivido à custa da miséria de milhões poderem continuar a acumular lucros desmedidos à custa dos sacrifícios dos miseráveis.
Outra das formas é falar de futebol. E então temos: discussão de dois dias sobre se foi penalti, livre, ou se o local onde a bola bateu foi no braço, na mão, no peito, ou no cú do jogador! Temos directos sobre como correm os treinos, em que jornalistas excitados de olhos esbugalhados, como se estivessem a transmitir uma noticia do momento mais importante da história, falam do jogador A que caiu e aleijou o rabo tendo de pôr um pouco de gelo, do jogador B que teve uma caganeira e não pode ir ao treino, e do treinador que não quis fazer conferência de imprensa porque provavelmente lhe dói um dente!
Mas a forma de distracção preferida nos últimos tempos é o caso Freeport, e as suspeitas que envolvem o Primeiro Ministro José Sócrates. E falam do DVD, em que o inglês diz que Sócrates é corrupto, falam de que assinou o despacho à pressa antes do fim do mandato em que era Ministro do Ambiente (coitado do ambiente). E deixam o País em suspenso... será Sócrates culpado ou não? E depois dependendo da conclusão do processo farão as seguintes leituras:
1 – Se Sócrates for culpado, dirão em tom professoral à Marcelo Rebelo de Sousa, ou em tom arrastado pelo Whisky de Vasco Pulido Valente, ou então no tom de pateta alegre e de bobo da corte de António Vitorino é preciso um líder que o substitua porque o problema do Sócrates foi ser culpado, e não se deve confundir isso com as medidas políticas...
2 – Se Sócrates for inocente, respirarão de alívio e dirão afinal temos um Primeiro Ministro sério e por isso o povo não tem motivos para não o manter no poder!
Seja qual for o resultado, depois da novela mexicana de quinta qualidade, teremos a tentativa da concretização do objectivo, manter todas as políticas que têm levado à crise em que o País se encontra.
Pouco me importa se José Sócrates se deixou comprar ou não!!! O que importa não é os motivos que levam à prática política de José Sócrates e do Governo PS. O que importa é quais as políticas, que consequências provocam, quem beneficiam e quem prejudicam!
E nisso José Sócrates é Culpado!
Culpado de adoptar políticas que permitiram lucros de milhões para meia dúzia de abutres!
Culpado de adoptar políticas que retiram direitos aos trabalhadores e dão direitos (para explorar mais e pagar menos) aos patrões.
Culpado por adoptar uma política que fechou escolas, centros de saúde, hospitais e maternidades.
Culpado de adoptar uma política que reduz as já magras reformas dos que agora terminam uma vida dura de trabalho, algo que Sócrates e os seus ministros e outros lambe-botas nunca saberão o que é!
Culpado por adoptar políticas que ao não apostarem no aparelho produtivo leva ao desemprego de milhares de trabalhadores e à falência de milhares de famílias!
Agora só falta a condenação, não dos tribunais, mas a condenação do povo! A condenação de José Sócrates e de todos os que sempre defenderam e defendem as políticas que só levam à pobreza e à miséria da maioria das pessoas.