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segunda-feira, 20 de abril de 2009

"Tejo que levas as águas"

«Tejo que levas as águas
correndo de par em par
lava a cidade de mágoas
leva as mágoas para o mar.

Lava-a de crimes e espantos
de roubos fomes terror
lava a cidade de quantos
do ódio fingem amor.

Lava bancos e empresas
dos comedores de dinheiro
que dos salários de tristeza
arrecadam lucro inteiro.


Lava palácios vivendas
casebres bairros de lata
leva negócios e rendas

que a uns farta a outros mata.

Leva nas águas as grades

de aço e silêncio forjadas

deixa soltar-se a verdade

das bocas amordaçadas.


Lava avenidas de vícios
vielas e amores venais
lava albergues e hospícios
cadeias e hospitais.

Afoga empenhos favores
vãs glórias ocas palmas

leva o poder de uns senhores

que compram corpos e almas.


Das camas de amor comprado
desata abraços de lodo

rostos corpos destroçados

lava-os com sal e iodo.

Tejo que levas as águas

correndo de par em par

lava a cidade de mágoas

leva as mágoas para o mar».

Poema de Manuel de Oliveira
Música de Adriano Correia de Oliveira


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