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quinta-feira, 14 de maio de 2009

"A Morte"

"Renasci muitas vezes, saído do fundo
de estrelas derrotadas, reconstruindo o fio
das eternidades que povoei com as minhas mãos,
e agora vou morrer, sem mais nada, a não ser terra
sobre o meu corpo, destinado a ser terra.

Não comprei a parcela de céu que os sacerdotes
vendiam, nem aceitei as trevas
que os metafísicos manufacturavam
para o ócio dos poderosos.

Quero estar na morte com os pobres
que não tiveram tempo de estudá-la,
enquanto os espancavam os que têm
o céu dividido e ordenado.

A minha morte está preparada, como um fato
que me espera, da cor que amo,
com a dimensão que em vão procurei,
com a fundura de que necessito.

Quando o amor esgotou a sua matéria evidente
e a luta debulha os seus martelos
em outras mãos, aumentando-lhes a força,
vem a morte e apaga os sinais
que a pouco e pouco construíram as tuas fronteiras."

Poema de Pablo Neruda in "Canto Geral"

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