"(...) Àquela hora de fim de tarde, o clube dos pobres abarrotava de gente. Operários de rostos duros como o aço das máquinas, marítimos que traziam nos olhos a inquietação do rio, descarregadores hercúleos com risos de criança. Aqui e além, homens de braços caídos, à espera...
Festejavam a noite, que lhes trazia, nas dobras do manto negro, repouso e esquecimento. Noite que era o seu dia. Uns, abancados a mesas encardidas, procuravam no jogo das cartas a sorte que o trabalho lhes negava; outros, escorropichavam copos de vinho, recuperavam forças - iludiam as forças. Que ali tudo era ilusão: amálgama de risos e vozes, melodia indefinível de música que a telefonia jorrava; e, no ar empestado de fumo, à tona de tudo, um vago sonho de ventura. (...) "
Excerto de "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
Pintura de Priscila Lima
Excerto de "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
Pintura de Priscila Lima
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