"(...)Corpo dobrado, suor a pingar, andaram dois dias naquela tarefa de carregar o forno, tijolo por tijolo, fiada por fiada, ora a partir de um topo, ora de outro, para que os tijolos, desencontrados, deixassem depois passar o fogo desde os arcos até aos ladrilhos.
Impaciente, mordiscando o cigarro, Zé Vicente debruçou-se vezes sem conta no beiral, a bradar:
- Então isso não vai, gente?
- É trabalho que não se vê, patrão. Mas já cá temos uma boa conta de adagues...
- Nunca mais chegam cá acima.
Também eles assim pensaram, fartos de olhar o mesmo pedaço de céu que parecia assente nas paredes calcinadas, em que o sol punha revérberos de entontecer.
Todavia, horas depois, quando a fadiga quebrava os corpos pela cintura e as bocas dos forneiros ofegavam, secas como tijolo cozido, o forno acendeu. (...)"
Excerto de "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
Desenho de Álvaro Cunhal.
- Então isso não vai, gente?
- É trabalho que não se vê, patrão. Mas já cá temos uma boa conta de adagues...
- Nunca mais chegam cá acima.
Também eles assim pensaram, fartos de olhar o mesmo pedaço de céu que parecia assente nas paredes calcinadas, em que o sol punha revérberos de entontecer.
Todavia, horas depois, quando a fadiga quebrava os corpos pela cintura e as bocas dos forneiros ofegavam, secas como tijolo cozido, o forno acendeu. (...)"
Excerto de "Esteiros" de Soeiro Pereira Gomes
Desenho de Álvaro Cunhal.
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